Um novo Peies?

Diante de um novo Enem, nada melhor que um novo Peies.
O Peies, para o leitor desavisado, é um programa especial de acesso às vagas da UFSM, que reserva um quarto das vagas de cada curso (ou pouco menos) para os alunos do ensino médio de uma vasta região de abrangência da Ufesm. Esses alunos prestam exames anuais, durante as três séries do ensino médio, acumulando pontos que depois são usados por ele em uma prova final na qual concorrem ao curso de sua opção. O Peies gerou polêmicas desde seu início e ao menos um dos centros de ensino da Ufesm notabilizou-se por fazer oposição ao mesmo. A resposta que a realidade deu foi, no mínimo, surpreendente. Centenas de escolas aderiram ao mesmo e milhares de estudantes foram alcançados. O Peies gerou uma coisa notável no cenário pedagógico, que foi a promoção de conversas e entendimentos entre professores e escolas para a elaboração dos currículos mínimos que orientavam as provas. No cenário de terra devastada que é a escola média brasileira, o Peies foi uma iniciativa rara, pioneira, corajosa; foi polêmico, controverso, tem pontos fracos, mas tem pontos muito fortes, que acabaram prevalecendo. Digam o que disserem os críticos do Peies, ele mostrou que era possível alguma ação, alguma interação real entre a universidade e o ensino médio para além dos pequenos, bem intencionados mas fugazes projetos de trabalho da maioria dos profissionais da área do médio ensino. “Mas essa ação enviesava o médio ensino regional”, diziam os críticos, “pois continuava entronizando o vestibular como a garganta profunda visada pelas escolas”. Acho que algo disso acontecia, sim. Mas acho que precisamos ir além do tudo ou nada na hora de pensar certas coisas. Acho que junto com o Peies algo mais se desenhou no horizonte. O Peies aos poucos desenhou uma paisagem da vontade das escolas. Foi nesse horizonte, entre outras coisas, que surgiu a proposta de introdução de conteúdos de Filosofia no vestibular, por exemplo, verbalizada e orquestrada pelo ex-presidente da Coperves, Prof. Dario Trevisan, bulldog do Peies, talvez a principal cabeça por trás do projeto do Peies como um todo. Mas mais do que coisas pontuais, como a presença da Filosofia, muito antes que ela fosse obrigatoria nacionalmente, o Peies era um certo gesto de vontade da Universidade de fazer algo junto a um ensino médio que agoniza nas mãos de um abandono criminoso; professores sufocados por cargas horárias do tempo da escravidão, políticas salariais vergonhosas, políticas formacionais de fazer chorar (pergunte a um professor quantas horas semanais ele pode dedicar ao estudo!), a ladainha é conhecida. O Peies representava um olhar da Universidade para as escolas, um aproximar-se tateante, por vezes enviesador, mas certamente corajoso por romper uma inércia, um deixar-fazer que todos conhecemos.
Pois não se sabe o que vai acontecer com o Peies. Talvez possa surgir uma nova proposta, que combine as virtudes do Peies com sua ampliação e compatibilidade com o novo Enem. Fala-se nisso, na verdade, nos corredores da Ufesm, mas mais eu não sei ou não devo dizer.
Quem sabe o tempo, esse implacável juiz, um dia dê sua opinião sobre esses temas tão complicados.

2 respostas em “Um novo Peies?

  1. Na atual conjuntura, é preciso coragem (muita) prá não ser omisso. E demonstrar isso. Nada supera valores que não se corrompem com a injustiça.
    Obrigada pelo seu compromisso com a integridade. Que, neste momento, é redentora.
    Abraço de gratidão.
    Cristina

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