O marco da discórdia

Essa expressão, “marco da discórdia”, consta do livro de Tau Golin, A Fronteira, publicado pela L&PM em 2004. Somando o que ele conta ali com o que é narrado no livro Fronteira Iluminada, de Fernando Cacciatore Garcial (Editora Sulina, 2010), temos uma fascinante história sobre o desenho das linhas de fronteira seca entre o Brasil e o Uruguay. Um dos pontos altos dessa história é um episódio de contestação, por parte de uruguaios, da colocação dos marcos em uma região próxima a Santana do Livramento e Rivera. O marco que fotografei é o de número 49-1, construído em 1857. Algum tempo depois de sua construção alguns uruguaios, entre eles o coronel Carlos Vila Seré, questionaram a fronteira que o marco assinala. Ali fica a nascente do Arroio Invernada, que depois desemboca no Quaraí. Tau Golim conta e mostra no livro que existem mapas oficiais do Uruguai – não sei onde coloquei um que comprei para viajar por ali, para testar a informação – nos quais está escrita a expressão: “limite contestado”. O fato é que ali onde está o marco 49-1 ficam, frente a frente, duas vilas. No lado brasileiro, a Vila Albornoz, um aglomerado de poucas casas que foi instituído em 1985, pelo governo brasileiro, depois de Thomaz Vares Albornoz doar uma pequena área de terra. E no lado uruguaio, Massoller, igualmente pequena, ligeiramente mais bem cuidada. A placa de inauguração da Vila Albornoz, no governo de Jair Soares, está lá e é do tempo em que o presidente brasileiro era o General João Figueiredo. Dizem que a instituição da vila destinou-se a conter o assanhamento territorial dos uruguaios. Uma vez por ano o exército brasileiro faz ações sociais por lá, me disse um morador. O lugar já foi mais próspero, com dois postos de gasolina, um de cada lado. Hoje, no lado uruguaio corre a Ruta 30, asfaltada. No lado brasileiro, a estrada de acesso é muito ruim. Fiz os dois caminhos, mas estou longe de ter explorado minimamente as possibilidades de turismo de discórdia que o lugar tem. Em julho, no inverno, volto lá. O tema rende.
O album de fotos que fiz nessa viagem está aqui no Flickr.

4 respostas em “O marco da discórdia

  1. é Ronai, rende mesmo! isso é matéria pra Código Postal da NG, como já pessoalmente te disse…A discórdia tão perto da fronteira da Amizade…os paradoxos que se entrelaçam…baita abraço! Rafa

  2. Boa tarde. Tenho uma foto antiga do meu pai junto a um desses marcos mas não consegui ainda descobrir exatamente o local. No marco está escrito “Villa S Joaquim do M Lopes. Será que vc pode me ajudar a descobrir? Como posso enviar a foto pra vc? Obrigada. Laura.

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