Quando setembro vier, com ele nada virá.

O çepe mais uma vez não conseguiu deliberar sobre aquilo que não pode deliberar, a saber, sobre a paralisação dos protestantes. Passei pela Reitoria na metade da manhã de sexta e encontrei um comandante da breve. Ele sorriu para mim, triunfante e me perguntou: “O que fazes por aqui, assombração? Aqui não saiu nada!” Eu respondi que tinha vindo ver de perto o pequeno horror e ele me olhou de novo  em triunfo. Como eu não desarmei minha expressão, ele não teve outro remédio a não ser amarelar o sorriso, um tanto constrangido pela barba branca que portava. Ele, que já viu e fez muitas greves dignas, hoje empresta suas barbas para essas derivas e aos poucos parece reconhecer o delírio. 

Foi o segundo bloqueio do çepe por esses dias.  Deixando isso de lado, o çepe será convocado para a próxima semana, bem para o final da mesma, por certo. Mais uma vez isso não funcionará, pois de duas, uma. Ou bem novamente a reitoria será trancada ou bem novamente qualquer proposta da mesa será derrotada, pois, dizendo de forma bem direta, a mesa não tem maioria. E a maioria não está nem um pouco interessada em tomar decisões respaldadas em alguma forma de direito que não seja o do grito. As decisões recentes do çepe são apenas um arremedo deliberativo, respeitados pelo excesso de delicadeza da reitoria. Os protestos vão se estender até quando setembro vier; e as aulas, oficialmente, somente vão começar quando os desmandos quiserem. São eles que estão no controle da deriva. E de deriva em deriva, chegamos ao seguinte: temos de tudo um pouco, principalmente professores que  estão aos poucos iniciando por conta o segundo semestre, em total acordo com seus alunos. Mais de trinta autorizações para estágios e para uns poucos cursos ficaram esperando. A maioria não vai esperar; as coisas vão funcionar, como se diz, “por baixo dos panos”, em alguns casos, como, por exemplo, os estágios supervisionados nas escolas. Ou alguém acha que eles deveriam aguardar o sinal verde dos comandantes brevistas?  Os servidores vão, nesta semana, mais uma vez, recusar a proposta do Mec. Os anti-produtivistas já recusaram e estão esperando Godot. Como se sabe, ele não virá. Em seu lugar, ao contrário do que alguns esperavam, não virá nem mesmo o relho da Dilma, sequer o corte dos salários, suprema medalha de honra para um fim digno. Virá apenas o nada. Ele, o temível e terrível nada, ronda e ronca. É assim que vai terminar, como convém a um delírio e a uma deriva, em nada. E como se sabe, de onde o nada se espera, nada chega e se instala, redondo, impávido, indagador. 

Alguém sugeriu que o Reitor retome o controle da situação mediantes simples memorandos de autorização administrativa. Isso seria não apenas legítimo como legal, num contexto de campus ocupado. Ao que parece, ele prefere fazer nada. Esperar nada. Daí talvez, como diria o Vitor da Filosofia, surja algum ser.

7 respostas em “Quando setembro vier, com ele nada virá.

  1. Só há duas possibilidades de ação para os não-grevistas: ou começar à revelia para não perder mais tempo, ou começar à revelia e organizar alguma ação política que demonstre tanto à reitoria como aos grevistas que não aceitamos e não engoliremos a truculência calados… Até o momento nada foi feito…

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