Mais uma dança dos famas: o requerimento monocromártir ao çepinho

Os famas encontraram-se para fabular. Depois das saudações habituais, “Boas salenas, fama, fama”, decidiram, antes da fabulação, cantar e dançar a “Alegria dos Famas”, incluindo mais um versículo e um passo: “Dilema, Dilema, olha prá nós, Dilema, Dilema, não esquece de nós”, enquanto davam um passo para trás e mais outro passo para trás. Depois de ficarem imprensados contra a parede, decidiram fabular. Um fama pegou um lápis e começou a apontá-lo. Fez uma ponta bem fininha, mas que ainda não estava boa, e fez uma ponta ainda mais fininha ainda, mas que ainda não estava boa. Quando o lápis terminou, o fama pegou uma caneta bic, tirou o canudinho para depois usar no chá das cinco e escreveu, cuidadosamente, um escrito, dirigido ao çepe, ditado em coro pelos outros famas, que esperavam, pacientemente. Ficou assim:
– “çepe, çepinho, fica bonzinho, ajuda a gente e fica quietinho.”
Um fama pediu a palavra e pediu mais um coro, para acrescentar mais uma frase, que ficou assim:
– “çepe, çepinho, fica bonzinho, ajuda a gente e nos dá um leitinho”.
Os famas quase desfaleceram diante de tamanha astúcia e deciram que a canção para o çepe estava muito elegante.
Uma esperança, que acompanhava tudo atônica, lembrou que o escrito estava duro demais e que era preciso dar um toque de leveza. Ela sugeriu mais um verso. Ficou assim:
– “çepe, çepinho, cumpre a leizinha”.
Os famas derramaram lágrimas, diante de tanta sagacidade.
Um cronópio que assistia a tudo calado, diante do silêncio dos famas, acrescentou:
– Mas esse negócio de pedir que o çepinho faça a breve por nós não vai pegar mal e parar nos nossos lattes?”
Um fama, muito furioso, retrucou:
Os nossos lattes não não mordem, isso é coisa de cruéis cronópios cruentos. O çepinho é bom cumpridor das leizinhas e não vai nos abandonar nas mãos da Dona Dilema.
O cronópio tinha hora marcada no dentista e abriu uma pasta de dentes, que começou a apertar vagarosamente pelo meio, cobrindo toda a escova. Os famas ficaram escandalizados com aquilo e começaram a fabular. Será que çepinho poderia aprovar uma leizinha que impedisse os cronópios de apertar os tubos de pasta de dente pelo meio?
Resolveram ignorar o cronópio.
Uma esperança tirou de sua bolsa um penico e começou a recolher as lágrimas de confraternização e alegria dos famas. O penico ficou cheio, pois os famas, que raramente choram, quando o fazem, é como a chuva, quando chove choverando.
A esperança foi encarregada pelos famas de fazer um chá de lágrimas ao penico, para servir aos mono-conselheiros do çepinho. Tudo estando de acordo, os famas fizeram mais uma vez uma dança de roda e cantaram uma nova versão da canção “Alegria dos Famas”:

“çepe, çepinho, que trazes prá mim,
breve, brevinha, gostosa assim,
empurra a Dilema
prá perto de mim
não deixa os loucos
dar aulas assim!”

Bis
Depois,
biscoito,
Os famas ficaram com fome depois de escrever cinco páginas de “çepe, çepinho, çepe, çepinho e etc.”
As esperanças, que assistiam a tudo atônitas, foram encarregadas de protocolar, com fitinhas verdes, o requerimento monocromártir pedindo ao çepinho que ele cumpra a leizinha dos famas.
Eles terminaram a dança e ofereçam-se um magro café, embora servido por diversos criados. Fizeram discursos fúnebres, sobre os cruéis e cruentos cronópios, que apertam as bisnagas de pasta de dentes pelo meio. O café tinha como prato principal traíras, muitas traíras. Nenhum fama desconfiou de algum simbolismo; os famas,como se sabe, tratam a relho os simbolismos, quando conseguem farejar algum.
Daí dançaram trégua e catala, disseram-se salenas e foram para casa dormir um sono de famas. Um fama lembrou de encomendar dois buquês de flores para o çepinho; um lindo ramalhete de vaiquerendo e outro mais lindo ainda, de amarelas e cheirosas nuncaverás. Esse fama quase não dormiu de tanta canção de aletria e hermenêutica.