Bliss

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Depois de uma caminhada de meia-hora, Bruna, a monitora do Rincão Gaia – uma área de trinta hectares nas proximidades de Pantano Grande,RS -, falou sobre a disposição de José Lutzemberger, o idealizador do local, de ser enterrado ali. Ela descreveu os detalhes da vontade de Lutz, como era chamado pelos amigos: ele queria ser envolvido em um lençol e deveria ser enterrado em uma cova a três palmos do chão, no bosque de eucaliptos que fica na parte mais elevada do Rincão Gaia.
E assim foi feito. Quando ele morreu, foi velado na Casa Comunal do rincão e depois levado pelos amigos, em uma caminhada de meia-hora, até o bosque. Chovia chuva miúda na hora. Ali foi retirado do caixão, envolvido no lençol e depositado na cova rasa. Sobre a cova foram plantadas bromélias.
A dois metros da mesma há uma placa, que reproduz uma frase dele sobre nossas relações com a terra.
Eu nada sabia disso. Na verdade nossa guia não havia, até aquele momento, indicado o local da sepultura, e eu perguntei, “onde mesmo ele foi enterrado”, ainda quase sem acreditar que ele poderia ter sido ali sepultado. Ela nos indicou um conjunto de bromélias que estava nas proximidades. “Ali”. Quase todos desconhecíamos isso. Ficamos quietos, por um largo momento. Tirei o chapéu que estava usando e caminhei lentamente ao redor das bromélias. Reparei que uma pequena aranha, entre dezenas de outras, fazia uma rede sobre as plantas. Depois de alguns minutos de silêncio, fiz algumas fotos. Amigo e Mancha, os cachorros do Rincão de Gaia, andavam por ali, bem à vontade, junto ao túmulo de Lutz, um homem que fez época no Brasil e no mundo, por ter acreditado em sua ventura.