Sinuca embaixo d’água

Aproveitei o feriado para ler o romance de estréia de Carol Bensimon, “Sinuca embaixo d’água” (Companhia das Letras, 2009). Carol é portoalegrense, nascida em 1982, e no ano passado publicou um volume de, digamos, contos, chamado “Pó de Parede”. Agora saiu seu primeiro romance. O livro me fez pensar na voz que cada geração tem que fazer para si mesma, na compreensão de mundo e vida que cada um de nós fabrica para si mesmo e que a cada tanto caduca; caduca para o varejo da gente mesmo, pois a vida da gente por vezes é como focinho de porco, vai adiante antes dos olhos e das idéias e topa com coisas que a gente não revolve bem; mas caduca no atacado, quando nos encolhemos diante do esquema geral de tudo, quando nos refugiamos nas pequenas idéias das pequenas tribos, nos esquemas reconfortantes da salvação da humanidade no atacado das boas intenções. A geração de Carol chegou tarde demais para embarcar nos sonhos do atacado libertário, malemal colaram uma allstar no peito por consideração aos pais e tiveram que sair em busca de outros sinais. Boas escolas fizeram uma diferença; o mundo foi descoberto aos poucos, com garantias; descobriram “os com pouco dinheiro” e a contraditoriedade do mundo, e, como nós, os porcos antigos, foram enfiando o focinho na terra, percebendo a diferença e o intervalo entre o gesto e o pensamento, entre o acontecimento e a idéia. E foram afinando a voz e a percepção, entre a alegria e as pequenas tragédias. Até que.
Tem livros, desses que as editoras vendem, bem fresquinhos, cheirosos como pão da hora, que a gente lê e fica pensando na tristeza das árvores que caíram. Tem outros que me fazem pensar nessa metáfora boba, de porquinhos que focinham com calma, que parecem compreender o intervalo. E daí se metem a escrever, furiosa mas calmamente, intensamente, mas mostrando que sabem o tempo que toma “recompor afetos, reinventar a vida”.
A sinuca de Carol, acho eu, não é de bico.