Pumalin, Amazônia

Tem dias que a gente se sente como quem partiu ou morreu, disse o Chico. E tem temas que a gente sente que pedem de nossa compreensão mais do que podemos dar; daí o remédio é, como diz o gaúcho, ir assuntando, despacito, sem amadrinhador. Exemplos: a história das pesquisas com embriões, a decadência da universidade pública brasileira, como comenta hoje o Renato, na página 17 da ZH, essas histórias da Amazônia. A BebecêdeLondres, como se diz, conta que uma tribo de índios nunca dantes avistada foi fotografada por um avião, na fronteira do Brasil com o Peru. Segundo a matéria, que pode ser lida aqui –  e antes que o Claudemir reclame, já traduzo o título da cuja, “Tribo isolada é avistada no Brasil” – a tribo é uma de outras tantas, aproximadamente umas cincoenta tribos de índios, que nunca tiveram contato com a civilização, e que tem seu destino trágico facilmente antecipado: dentro de alguns anos serão contatadas e gripadas e engolidas pelas fronteiras agrícolas. 

Eu não sou adepto das teorias conspiratórias, mas ouço os relatos das ditas com uma dose extra de benevolência, ao menos por um sentimento de respeito pela criatividade humana, de um lado, e, de outro porque, como diz o Lair Ferst, “no campo das hipóteses tudo é possível”. Acho que o Prof. Frank discordaria disso mas deixemos esse tema para outra hora. Lembrei-me das teorias conspiratórias porque voltou uma das mais recorrentes sobre a Amazônia; alguns grupos internacionais querem comprar a florestama toda, para fins preservacionistas. A brasileirada pegou no grito e saiu no tapa jornalístico, para bater no sujeito (cujo nome e nacionalidade estou com preguiça de pesquisar agora) que está disposto a comprar toda a rain forest pagando o que pedirem.

Tem dias que a gente se sente. Num deles, desci num velho jipe até a patagônia chilena. Fui até Puerto Mont, desci um pouco mais pelas estradinhas de chão, enfiei o jipe num barco e desci mais ainda, no rumo de Chaitén, Coihaique e adiante.  No meio desse caminho haviam muitas pedras e um parque, coisa mais linda, chamado Pumalin. Puxei o afogador do jipe e fiquei ali uns dias, caminhando por umas trilhas e tomando chuva, que é o que mais tem por ali, fora o vulcão que fumegou dias atrás. Descobri que o tal do parque pertencia a um grupo de investidores internacionais, que foram comprando, hectare por hectare, até seccionarem o Chile, fina tripa, em dois; foi uma gritaria dos diabos, tapas jornalísticos de todo tamanho e feitio, até que os internacionais criaram uma fundação e doaram o parque ao Estado Chileno, preservado o direito de administrarem o local, com a manutenção de trilhas, vigilância contra corte de árvores, etc. 

Acho que sou um trouxa, pois fiquei fâ do Pumalin, que corta a tripa chilena em duas; o parque de fato preserva uma das mais lindas reservas naturais dos Andes. Se não fossem esses tais de investidores internacionais, os chilenos já teriam picotado a floresta e entregue aos japoneses, loucos por cavaquinhos para fazer papel para fazer pacotes para embalar as bobagens que inventam para a gente ficar louco para comprar.

E agora essa conversa sobre a Amazônia, essa história da tribo, essa história de um grupo de investidores comprar o florestão para preservar tudo; isso me fez lembrar do Pumalin; mas com o frio que está fazendo fica difícil achar uma frase para rematar a conversa. Tem dias que a gente sente que o assunto é complicado mesmo.